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Por Barbacumba2023
ProduçãoCemitérios Sagrados
Eu sou a Layla
Da Bela Vista
São Lourenço da Mata
Filha de Carmem e Pedro nascimento
Todos me conheciam por Aya
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Na época, eu não tinha muitos amigos, não havia muitas crianças para brincar ali.
Achava chato ficar trancada sozinha e, por isso, saía com meu cachorro pela vizinhança.
Foi daí que tudo aconteceu. Em quinze de novembro de dois mil e dezoito, eu tinha onze anos.
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Não sabia, mas o último dia da minha vida foi assim, um dia normal.
Meus pais estavam apressados, o café em cima da mesa parecia pela metade e Salmão lambia as patas embaixo da mesa.
O moço do peixe passou um pouco depois de papai se despedir. Eu levantei assim que eu ouvi Nina varrendo as folhas no quintal . Como minha mãe dizia: "nem um galo cantou diferente naquele dia".
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Ainda era cedo quando a gente decidiu ir até nosso esconderijo secreto.
Saímos com uma garrafa cheia de água e bolachas secas pra comer no caminho.
Salmão seguia na frente como um velho caçador, muito mais esperto do que vocês possam imaginar.
Querem saber? Em uma de suas caçadas, encontrou uma casinha abandonada lá na Mata de cima.
Pra chegar até lá, cruzávamos uns dez minutos a estrada de barro batido.
Uma casa silenciosa, cercada por rabos de macaco, escorada numa pedra no meio da mata, feita de madeira, lona de caminhoneiro e uma porta de escritório bem bonita.
Havia muitas coisas lá, não sei por que abandonaram assim, era bem arrumadinha, pequena, mas bem feitinha.
Num quarto escuro tinha um motoado de caixas, sacos enormes e potes cheios de materiais de limpeza.Tinha dias que Salmão nem se empolgava tanto.
Eu fazia tudo sozinha, varria, passava, deixava a casa cheirando a novo. Eu até levei umas toalhas pra mesa no dia do piquenique.
No finzinho da tarde, o sol desaparecia do outro lado do rio.
Ficávamos de olho para chegar em casa antes de Mainha perceber.
Salmão olhava pra mim Com sua inteligência de cachorro, Como se pensasse: "Ninguém vai encontrar nosso esconderijo".
Era uma mata bem dificil que corria igualzinho à estrada: afinando, subindo e descendo com suas árvores grandes.
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Os ventos fortes queriam dizer algo ruim, mas eu não entendia, não dei ouvidos
até Salmão erguer as orelhas, apontar o focinho para uma carroça velha se arrastando nos fundos da estrada onde a gente estava.
Era o velho da pipoqueira, apareceu sacolejando a Kombi velha, do nada, para oferecer carona.
Não queria ir, mas minhas chinelas estavam duras feito pedra e Salmão sofria com a língua de fora.
A Kombi encardida cheirava a gordura, faltavam alguns bancos e Salmão, com as orelhas ligadas, lambia umas sacolas abandonadas, eram roupas sujas e panelas iguais às que tinham no nosso esconderijo.
O velho tinha as mãos gordas e as unhas pretas, ele não falava nada, apenas olhava para mim e sorria.
Eu achava engraçado aquele homem bagunçado dirigindo uma carroça velha, eu sorria para ele também.
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Naquela tarde, Salmão chegou em casa sozinho.
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2007-2018