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Por Barbacumba2023
Produçãocemitérios sagrados
A rua de barro nos Pinhais era estreita, ficava numa área isolada de Aldeia, a alguns quilômetros de qualquer casa vizinha.
Uma pequena clareira aberta no meio do mato, onde o tempo a transformou numa estradinha de acesso bem particular, apenas meus pais e meus irmãos atravessavam.
Nossa casa ficava pouco à vista de quem, por algum motivo, parasse ali, escondia-se pelas copas dos pinheiros. Tinha telhado vermelho e paredes bem brancas.
Uma casinha no brejo, distante de quase tudo.
Pouco antes do Natal, estava encorajada a cumprir agendas, obrigada por essas datas do ano, como a maioria faz.
Chegaria um pouco mais tarde da escola. Isso não seria grande problema, a não ser o tempo virando toda hora.
Chovia muito e a estrada de barro fazia um massapê em minhas sapatilhas, a noite terminaria o pouco da minha paciência.
O barreiro ensopou a estrada, pois nem o ônibus se atreveria, o motorista encostou entre a avenida e a bifurcação, avistei a luz escondida no cume do alpendre de casa.
Meu pai se adaptou à rotina de sua aposentadoria, facilmente arrumava um compromisso que tomasse conta. Quando ouvia o ronco de qualquer motor, se sentava na varanda e acendia um cigarro até que me avistasse.
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Nossa casa era rodeada pelo matagal, capim, cana-de-açúcar e o terreno acidentado que acompanhava a caminhada até a porta de entrada.
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Não prestei muita atenção, mas havia algo estranho. Poderia ter sido um raio cruzando a mata. Minha intuição vinha da encosta.
Ninguém estaria por ali, caso não houvesse um motivo bastante inesperado. Achei esquisito.
Evidentemente que não parei, seria uma ousadia besta, pois meu pai estava bem ali, próximo. É certo que viu o ônibus chegar, é certo que me esperava.
Eu estava muito ocupada para ver, mas antes que eu atravessasse o caminho de pedras, já havia alguém à minha espera, a poucos instantes de cruzar o cercado.
Achando que alguém me ouviria, travei uma briga inútil que ceifaria minha vida. Dois homens monstruosos me amordaçaram sem nenhum alarde, como um leão pisando em capim novo.
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Desmaiei antes mesmo de ser puxada para o carro, com outras duas pessoas aguardando fuga. No meio da estrada ficaram a bolsa e minhas sapatilhas pretas.
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Meu pai ainda me espera.
2003-2023