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Por Barbacumba2023
ProduçãoCemitérios Sagrados
O açude das pedreiras tinha a profundidade de um prédio pequeno.
Até os homens que jogavam no campinho não se arriscavam em entrar.
Além de fundas, suas águas eram turvas, de cor encardida.
Ficava à beira da estrada de Aldeia, desde que a construtora onde meu pai trabalhou desistiu daquele terreno.
Meu pai disse que descartaram, nem ele sabia porquê. Com o tempo, a molecada descobriu e, vez ou outra, subia em bando pra lá.
Beto e Friole eram bons nadadores. Faziam competições malucas para chegar até a outra margem.
Mergulhavam de cabeça e subiam com a terra do fundo nas mãos. Eles sacolejavam o açude até mudar de cor.
Não sabia se eles batiam mesmo no fundo daquele buraco feioso, mas aquilo me assustava muito
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Eu era um ótimo centroavante, mas que na água... afundava como uma pedra. Minha mãe sabia disso e não queria me ver por aquelas bandas.
§
Foi no entardecer.
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Havia chovido muito em Várzea Fria. Um círculo de lama argiloso se formou nas margens do açude. Pelo que eu via, pequenas corredeiras arrastavam restos da mata.
Da pedra onde os meninos mergulhavam, era mais seguro, eu pensei. Arrudiei a cerca, subi até o ponto mais alto e cheguei aos troncos, suspendendo meu corpo até onde eu pudesse ver os meninos.
Num descuido da morte, minha perna direita foi na frente, a outra se dobrou e me arrastou.
Desesperado, tentei amparar na grama rala e resmunguei baixinho para não cair na água .
Antes tivesse gritado...
Antes nem tivesse ido...
Antes tivesse ouvido minha mãe...
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Quando cheguei ao fundo, senti meus dedos alcançarem pequenas pedras. Ainda ouvi a voz de Friole tremula, bem longe...
Pensei que fosse mais fundo, eram apenas alguns poucos metros, eu acho.
Mas as águas eram muito mais escuras, tinham um gosto ruim e eu engolia sem parar.
Era muito mais escuro que eu imaginava, como o final de um filme.
Lembro de ter sentido lama em meus cabelos, lembro de ter visto Friole gritando sem parar, lembro que logo começou a chover de novo.
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2000-2011
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